Hora da travessia

Há um tempo atrás, logo que iniciei os preparativos para o casamento, colei um poema de Fernando Pessoa no meu armário que dizia assim:

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Não sei bem se colei esse poema para que ele me desse a coragem necessária para seguir em frente, como um mantra que a gente quer viver todo dia para internalizar, ou porque eu realmente acredito que em determinados momentos da nossa vida é preciso escolher um caminho em detrimento de outro. Encarar o que é novo, se jogar rumo ao desconhecido.

Nessa minha aventura de casamento senti muito medo. Eu, menina que desde que nasceu morou na mesma casa, com os mesmos vizinhos e andou pelas mesmas ruas... eu, que sempre me acostumei com estabilidade e lugar-comum, me vi tendo que enfrentar a grande travessia da minha vida.

Não vou mentir: em casos assim, por vezes dá uma vontade danada de dar um passo para trás, retroceder e voltar para aquilo que a gente já conhece e sabe que é bom. Mas devo dizer também que em determinado momento da vida, só o que é 'bom' não satisfaz mais. A alma pede desafios para ser feliz. O marasmo não compensa.

E nessas últimas 24 horas que antecedem o meu casamento, nessa última noite como mulher solteira, olho para trás e chego a uma constatação: não mudaria uma vírgula nessa minha trajetória. Faria as mesmas escolhas e diria novamente o mesmo 'sim, eu quero me casar com você'.

Acho que só o amor pode fazer isso com a gente. Só o meu amor poderia me salvar de ficar à margem de mim mesma, tal como no poema de Fernando Pessoa. 

Dia desses, voltando para casa de um compromisso de casamento e conversando sobre os detalhes do grande dia, o principe me olhou e disse: "vai ser uma grande mudança né?". Eu respirei fundo e disse que sim. Mas foi um suspiro de alegria, de ansiedade por essa vida nova que bate à minha porta.

Sei que como todo caminho que a gente escolhe, o caminho que seguirei tem seus prós e contras. Sei também que tenho que aceitar o ônus do meu 'sim' e espero ter sabedoria para continuar firme no meu propósito de ser feliz ao lado da única pessoa que é capaz de fazer isso por mim. 

E se é o amor que me faz recolher as roupas do armário, colocar tudo numa mala e dar até logo aos meus pais, amigos, cidade e à tudo que eu conheço, acredito que a firmeza que me faz fechar a mala com um sorriso no rosto é a certeza de que estou me casando com a pessoa certa.

Minha mãe disse que meu pai só teria confiança de entregar minha mão a ele e muitas pessoas me afirmam: "ele é diferente". E eu sei que é.

Por isso, o frio na barriga e a reticência normal que se sente quando vamos tomar uma grande decisão na vida não me faz fraquejar. 

Hoje largo tudo pelo sorriso e aconchego da pessoa amada. E que seja assim sempre: que tenhamos a ousadia de fazer as travessias que se apresentam diante de nós. O prêmio no final? encontrar o seu verdadeiro eu.

E nada acaba por aqui. Hoje começo a escrever uma nova história. A mais linda que Deus já escreveu.

O blog continua com detalhes pós casamento e minhas impressões sobre os últimos acontecimentos que, por falta de tempo, não pude relatar aqui.

Agradeço de coração a todas e todos que acompanharam e se divertiram com meu humilde bloguinho.rs. Fiquei muito honrada e surpresa por constatar que muitas pessoas se identificaram comigo, ainda que eu não seja uma noiva tradicional que faz um blog sobre coisas meigas, fofas e orçamentos.hahaha.

Preparei um postinho especial direto do casório. Aguardem.